
Se há coisa de que tenho saudades, é daquele bar em frente á praia. De me sentar com as amigas na esplanada, de ouvir aquele jazz como música de fundo, e de conversar durante horas a ouvir aquelas ondas tão agitadas durante a noite. Eram noites em que falávamos de tudo, em que riamos até não aguentar, em que por vezes quase chorávamos, e outras até ficávamos caladas a olhar umas para as outras, era tudo perfeito, até mesmo quando estávamos em silêncio, podíamos saborear daquele ambiente na maior das tranquilidades. Quando já toda a gente saía, nós éramos sempre quase as últimas, depois de sair, tirávamos os sapatos e íamos pela areia, um pouco fria de noite, mas sabia tão bem sentir os grãos de areia nos nossos pés, de sentir o cheiro do mar, e o pouco vento daquela estação. Muitas vezes deitávamo-nos na areia a ver as estrelas e a conversar sobre os nossos sonhos e os nossos medos, e até das nossas ansiedades, tentávamos adivinhar o futuro que se avizinhava, e mantínhamos sempre a esperança de que tudo iria mudar, e começar a correr tal como tínhamos previsto. Jurávamos que nunca nos íamos separar e que aquelas noites eram para repetir. Sei que valeu de pouco ou nada tudo aquilo que tentamos adivinhar, é claro que nem tudo corre como estamos á espera, ou sonhamos. Mas sei que valeu a pena, todas as noites passadas naquela esplanada, eram noites que nos preenchiam e nos faziam sair da rotina. Apesar de tudo, ainda nos damos bem, estas noites de inverno tão solitárias não nos permitem ir para esplanadas em frente á praia nem sentir os grãos de areia, mas sim para nos aconchegar em casa a pensar em todas estas noites que não queremos que se percam. Por muita coisa má que tenha acontecido no Verão que passou, resta-nos o nosso Grão d’Areia que sempre ouviu os nossos suspiros de vidas cansadas e pouco tranquilas, mas também que nos preencheu com aquele ambiente calmo e aquele som contagiante do seu jazz e das ondas do mar tão delirantes.